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A QUINTA DA REGALEIRA

Um dos lugares mais simbólicos da Maçonaria em Portugal

 

Chama-se esotérico a um conhecimento oculto, seja doutrina ou técnica de expressão simbólica, reservado aos iniciados. O esoterismo é, pois, o conjunto de práticas e de ensinamentos esotéricos, no contexto de uma tradição multifacetada que abrange diferentes épocas, lugares e culturas. A Alquimia, a Maçonaria e os Templários, por exemplo, incorporam teorias, rituais e procedimentos herméticos que se integram no âmbito do esoterismo.

Na tipologia do misticismo judaico, firmado na procura de Deus e na experiência da divindade, o esoterismo baseia-se, fundamentalmente, na lei das correspondências, que visa encontrar, através do recurso à analogia, relações simbólicas entre o divino e o terreno, entre o transcendente e o imanente, entre o visível e o invisível, entre o homem e o universo. A passagem de uma a outra dimensão opera-se em cerimónias de iniciação, por meio de encenações e rituais de carácter mágico, nos quais o neófito recebe o segredo da transmutação, aceita a filiação no grupo de companheiros e acede a um nível espiritual superior.

A Franco-Maçonaria antiga, dita operativa, deriva das confrarias, das corporações, dos agrupamentos profissionais de pedreiros livres e dos construtores das catedrais medievais. À defesa dos interesses profissionais, juntavam os franco-mações preocupações de carácter filantrópico, moral e religioso. Os grupos maçónicos, organizados em sociedades secretas e reunindo em lojas, foram perdendo o carácter exclusivamente operativo e começaram a aceitar membros estranhos à profissão mas que perfilhavam os mesmos ideais iniciáticos.

O declínio das confrarias origina, por filiação directa, o aparecimento em 1717, em Inglaterra, da Maçonaria moderna, dita especulativa, uma vez que já não existe ligação à prática do oficio de construção, tendo utensílios como o esquadro e o compasso adquirido um valor eminentemente simbólico.

A Maçonaria provocou, praticamente desde o início, a oposição da Igreja Católica, embora muitos dos ensinamentos maçónicos, de inspiração cristã, preconizem a crença nas virtudes da caridade, na imortalidade da alma e na existência de um princípio espiritual superior denominado Grande Arquitecto do Universo. Grande parte da simbologia maçónica, sobretudo a dos altos graus, inspira-se em correntes esotéricas tais como a alquimia, o templarismo e o rosacrucianismo, inscritas em diversos locais da Regaleira.

Apesar da diversidade de percursos que a Quinta da Regaleira oferece, todos os caminhos podem conduzir a um aglomerado de pedras erguidas, com a aparência de um menir, num dos locais mais belos da mata. E eis que uma curiosa porta de pedra roda impulsionada por um mecanismo oculto e nos faculta a entrada para outro mundo. É o monumental poço iniciático, espécie de torre invertida que mergulha nas profundezas da terra. A terra é o útero materno de onde provem a vida, mas também a sepultura para onde voltará. Muitos ritos de iniciação aludem a aspectos do nascimento e morte ligados à terra.

De quinze em quinze degraus se descem os nove patamares desta imensa galeria em espiral, sustentada por inúmeras colunas de apurado trabalho, que vão marcando o ritmo e o aprumo das escadarias. Os nove patamares circulares do poço, por onde se desce ao abismo da terra ou se sobe em direcção ao céu, consoante a natureza do percurso iniciático escolhido, lembram os nove círculos do Inferno, as nove secções do Purgatório e os nove céus do Paraíso, que o génio de Dante consagrou na Divina Comédia.

Os capitéis dos colunelos enrolam longas folhas de acanto. E lá no fundo, a carga dramática acentua-se. Gravada em embutidos de mármore, sobressai uma cruz templária, aliada a uma estrela de oito pontas, afinal o emblema heráldico de Carvalho Monteiro. As galerias conduzem-nos, em autênticos labirintos, pelo mundo subterrâneo, aqui e além porventura povoado de morcegos. De construção artificial, na sua maioria, estas galerias aproveitam, no entanto, as características geológicas da mancha granítica da Serra de Sintra. No interior, a abóbada divide-se entre os maciços de rocha mãe, de um granito granular médio, geralmente de cor rosada ou parda, e zonas preenchidas com pedra importada da orla marítima da região de Peniche. É esta pedra, desgastada pelo mar e pelo tempo, que vai contribuir, sobremaneira, para a sugestão de um mundo submerso.

Ao chegarmos ao exterior, esperam-nos a luz e os cenários minuciosamente construídos. São animais fantásticos, artifícios de água em cascata, passagens de pedra que parecem flutuar à superfície dos lagos, ou nuvens silenciosas de vapor que dissimulam as entradas para este universo singular.

A simbólica alquímica parece estar presente em vários locais da Regaleira. Desde logo, na Capela, na pintura da Coroação de Maria por Cristo, na qual a Virgem ostenta, para além das três cores da Obra alquímica - o azul ou negro, o branco, o vermelho ou rubro - uma faixa dourada que poderá simbolizar o Ouro Alquímico.

Também num alto relevo existente nas traseiras da Capela, encontra-se representado um castelo com duas torres, separado por uma zona de labaredas, e uma goela infernal. Trata-se de uma figuração da tri-unidade do mundo e do homem o mundo superior ou espiritual, o mundo intermédio da alma e o mundo inferior ("ad infero" ou do inferno) material. A torre rubra é o Atanor, ou forno alquímico.

Nas cocheiras, sinais de Alquimia voltam a estar presentes, em duas esculturas que formam símbolos clássicos da Arte de Hermes a serpente que morde a cauda, simbolizando a Unidade, origem e fim da Obra, e a luta entre as duas naturezas, aqui representada por dois dragões, cada um mordendo a cauda do outro. Igualmente susceptível de uma leitura alquímica é a gruta ogival, onde Leda, segurando uma pomba na mão, aparece numa escultura à beira de um pequeno lago, enquanto Zeus, disfarçado de cisne, a fecunda bicando-a na perna. Trata-se de uma alegoria pagã ao mito, ou mistério, da Imaculada Conceição, ou concepção, que decorre num lugar escuro e húmido.

A alquimia tem por objectivo a transmutação real ou simbólica dos metais em ouro e por fim último a salvação da alma. As operações alquímicas são realizadas num Atanor, ou seja, num forno alquímico de combustão lenta, com um cadinho e um balão nos quais se pretende espiritualizar a matéria e materializar o espírito. Este propósito essencial da Alquimia operativa, executada em laboratório, é a obtenção da Pedra Filosofal, simbiose entre matéria e espírito, da qual poderia resultar, segundo os alquimistas, além da transmutação dos metais em ouro, a realização de um dos desejos ancestrais da humanidade o elixir da longa vida, capaz de proporcionar saúde e eterna juventude. Neste sentido, há quem considere a procura alquímica como uma metáfora da condição humana. A Alquimia assumiu, depois do século XVIII, um carácter manifestamente religioso, dedicando-se sobretudo ao estudo das relações espirituais e energéticas entre o homem (microcosmo) e o universo (macrocosmo). A partir de um trabalho erudito de equivalências e analogias, aceita-se que o universo nos engloba e nos interpela num só movimento existencial - ele é ao mesmo tempo transcendência (Outro) e nós próprios.

Parece evidente que a concepção religiosa do mundo que preside à Regaleira assenta no Cristianismo, mas num Cristianismo escatológico, que tem a ver com o fim dos tempos. Quer recorramos à lição da escatologia cósmica, que prenuncia o fim do universo e da humanidade, quer nos atenhamos à escatologia individual, que assenta na crença da sobrevivência da alma depois da morte, é a mesma ideia obsessiva que encontramos. É também um Cristianismo gnóstico, apoiado em discursos míticos e em conhecimentos sagrados que prometem a salvação dos fiéis e o retorno dos espíritos. É, enfim, um Cristianismo imbuído de ideais neo-templários, associados ao Culto do Espírito Santo, que encontramos na tradição mítica portuguesa.

Os templários foram monges-soldados, cuja ordem militar, fundada no período das Cruzadas em 1119, visava proteger os lugares santos da Palestina contra o perigo dos infiéis. Os votos de pobreza e castidade não impediram os Cavaleiros da Milícia do Templo de enriquecer e de desempenhar um importante papel económico e político, tanto no Oriente como na Europa, a ponto de criarem poderosos inimigos, como o rei Filipe IV de França e o Papa Clemente V, que levaram à perseguição e à extinção da ordem em 1314, sob acusações, porventura falsas, de blasfémia e imoralidade. Em 1317, D. Dinis de Portugal afectou os bens dos templários à Ordem de Cristo, que muitos aceitaram como sua sucessora.

Desaparecidos os templários não desapareceu o templarismo, cujo espírito, resumido na defesa dos lugares sagrados e na luta contra o mal, renasceu em várias correntes e organizações iniciáticas como sendo a afirmação simbólica da sobrevivência da Ordem do Templo. A cruz templária no fundo do poço iniciático, a cruz da Ordem de Cristo no pavimento da Capela, bem como todas as outras cruzes dispostas na Capela, testemunham a influência do templarismo no ideário sincrético de Carvalho Monteiro.

Há ainda, na Regaleira, referências rosacrucianas, em alusão à corrente esotérica iniciada no séc. XVII, de tendência cristã, utilizando os símbolos conjuntos da rosa e da cruz. O movimento Rosa-Cruz propunha reformas sociais e religiosas, exaltava a humildade, a justiça, a verdade e a castidade, apelando à cura de todas as doenças do corpo e da alma. Tornou-se grau maçónico de várias Ordens e, ainda hoje, existem escolas esotéricas e sociedades secretas que pretendem assumir-se como reaparições do mito Rosa-Cruz.

 

T.A.G.

 

Das poucas vezes

 que saímos da

 escola,

a

que mais nos

agradou!!!

Fotos Nossas

 

Para quem não sabe, fica a saber que este é o nosso destino após finalizarmos o  curso!!!

 

"INVEJA"